A mídia de um povo é o seu retrato

Sábado à noite... Ah... A primeira noite de descanso do trabalhador. No sábado, grande parte da população dorme um pouco mais tarde pois não têm necessidade de acordar antes do Sol nascer no dia seguinte. Independente de ritos religiosos, mitos, e outros hábitos, o que torna o Sábado realmente "sagrado" é o ar de 'ócio' que existe em um Sábado. As festas, as conversas nas calçadas, os bares... Sábado também é um dia de movimento para o comércio. E, um dia estratégico para as emissoras de televisão, principalmente.
É triste como o nosso Sábado é invadido por venenosas transmissões, que, subliminarmente, nos mais mediocres e desunidos.
Certa vez escutei o apresentador e proprietário de emissoras de radio e tv, Carlos Massa, o "Ratinho", falar a respeito da programação que era exibida em seu programa. Me lembrei: foi em uma entrevista para o Abujamra, em uma das edições do programa Provocações. Ratinho disse que ele transmite o que o povo quer, independente de ser bom ou de ser ruim, se é inteligente ou não. Cultura popular, para Ratinho, é o que a massa realmente quer. O seu papel como comunicador é transmitir o que realmente o povo quer ver. Ratinho possui, até hoje, um programa que transmite testes de DNA ao vivo, shows de calouros, e vários outros quadros de gosto popular, com foco nas classes mais baixas da população.
Quem acompanha Ratinho sabe que seu programa melhorou muito nesses últimos 10 anos. O nível de baixaria de antes quase não existe, e, hoje, o programa possui quadros mais diversificados, e traz atrações mais interessantes e até mais inclusivas.
A questão não é o programa do Ratinho, mas sim a sua colocação na entrevista com Abu: "transmitir o que o povo quer ver". Para Ratinho, fica claro que essa é a verdadeira 'Liberdade de Expressão', independente de qualquer apelo ético ou moral: se o horário permite e o povo "quer", é o que iremos mostrar.
TUDO PELA AUDIÊNCIA. Essa é a palavra de ordem nas emissoras de massa existentes no Brasil. Ratinho apenas disse isso em outras palavras.
A televisão é o retrato de um povo. Ligue a sua televisão e a sintonize nos canais abertos, nacionais. Globo, SBT, Record, Bandeirantes, todas seguem um mesmo mote, sem descompasso: DAR AO POVO O QUE O POVO QUER, ou melhor, DEVE QUERER...
Observem o que é transmitido aos Sábados na televisão brasileira: apenas música contagiante, apenas programas que instigam o desejo, de alguma forma (seja com corpos dotados de bundas do jeito que os brasileiros gostam ou com casas, carros e mansões tão caras, que o homem comum só continuará sonhando).
"É assim que é, é assim que tem que ser / De Segunda a Segunda samba pra valer..."
Claro que música é música, e deve existir algo de "bobo", de lúdico e, até, de idiota na música. A música também precisa nos fazer pular, nos divertir, nos distrair, nos fazer esquecer um pouco da realidade.
Vejam as antigas marchas de Carnaval. Eram tão lúdicas, dançantes, que só faziam sentido realmente no carnaval.
Ó abre alas
Que eu quero passar
Ó abre alas
Que eu quero passar
Eu sou Lira
Não posso negar
Eu sou Lira
Não posso negar
Ó abre alas
Que eu quero passar
Ó abre alas
Que eu quero passar
Rosa de Ouro
É quem vai ganhar...
  Chiquinha Gonzaga
Humanos gostam de música. Humanos dançam ao som de tambores desde os primórdios. Indígenas brasileiros dançam nús ao som de tambores até os dias de hoje!

Essa 'característica' humana é utilizada em exagero pela mídia de massa, aliada a várias outras táticas de "sedução" da massa, como quadros que instigam os desejos humanos (que fomenta o consumo e movimenta a economia).

O que há mais de cem anos era utilizado em apenas um momento de festa e descontração, hoje, não sabemos desfrutar.

Músicas dançantes, ou músicas com refrões a "la Michael Sullivan" são repetidas ininterruptamente nas mídias. Até a Internet não escapa disso.
Esse tipo de exploração da música é apenas um dos motes. É possível se observar diversos outros: Reality Shows (que sempre são, clara e sutilmente, "arquitetados", para evitar imprevistos diante dos telespectadores).
Aos Sábados, essa doença invade as tardes, as noites e até as madrugadas dos brasileiros. Não só aos Sábados, mas, todos os dias podemos ver porcarias na televisão brasileira.
O que é porcaria para mim, pode não ser porcaria para você. Essa subjetividade é o que controla o país. A democracia brasileira é controlada, manipulada, justamente porque a maioria da massa tem gostos rajásicos, e se deixam ludibriar, enganar, por um pouquinho de prazer. Comprar sonhos é com a gente mesmo. Não somos muito diferentes dos americanos no que diz respeito às eleições. A nossa diferença está na estrutura eleitoral, mas isto é assunto para um outro texto.

O vídeo abaixo mostra um episódio do programa britânico 'The Greatest Shows On Earth', onde a apresentadora Daisy Donovan visitou o Brasil e participou da produção de alguns quadros de programas do SBT, além de ter conversado com Patrícia Abravanel (que disse exatamente o que Ratinho disse na entrevista com Abujamra) e mostrou alguns outros programas da TV brasileira.



A nossa "Guerra" não deve ser contra um partido político, uma ideologia, ou contra tudo. Precisamos retirar as sangrias aos poucos. O que acham que um gringo, de um país de primeiro mundo, pensa sobre o Brasil e sobre nós, brasileiros?
Aqui não tem nada de "Pão e Circo". Se fosse realmente assim, todos seriam felizes, mesmo também enganados. Aqui existe teatro, e as marionetes somos nós. Tudo é assim, para nos mantermos trabalhando, sempre para outros, que são sócios do governo. Keep'on working your fuckin brazilian servant! Our colonies need to gain!





Sites consultados:
https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%93_Abre_Alas
http://rollingstone.uol.com.br/blog/programa-de-tv-de-qualidade-duvidosa-questiona-programas-de-tv-de-qualidade-duvidosa/

Obs.: Não sou nenhum conservador. O novo sempre vem. O novo é o que não é "mais do mesmo".

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